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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Inverno

O frio do inverno gela meu leito,
Já não o floresce como devia,
Inunda-o todo com sua dor fria,
Trazendo apertado pra dentro do peito,
Quem a carrega, amarga, agonia.

Desbota como se dissesse adeus,
A brancura das pétalas amareladas,
Curvam-se todas, deitando caladas,
Fugindo à mira dos olhos meus,
Como sentindo-se jamais amadas.

Não tremo por ter frio, mas dor,
Dilacerante ao ver a ternura murchar,
Delicadamente presa em seu pomar,
Se eu aqui por ela tenho tanto amor,
Mas tão tolo que só a fiz machucar.

Se eu puder proteger-te do inverno,
Mesmo que seja em meu detrimento,
O faço só para ouvir seu o acalento,
Não me importo se enfrento o inferno,
Se você me sorrir por mais um momento.

(João P. C. Pinheiro - 13/04/2011)

terça-feira, 12 de abril de 2011

Chão de Vidro

Não consigo olhar para baixo. Meus pés tocam o liso piso gelado que sobrepõe a imensidão infinita do que me espera logo abaixo. Seja o que for. Caminho decidido, porém com passadas curtas e delicadas. Nunca me senti como se o chão pudesse me engolir tão facilmente quanto dar o próximo passo. Nada à frente, nada às costas. Não há referência de direção que me mostre para que lado seguir. A cada metro o chão fica mais fino e as primeiras veias vão se formando no caminho sob meus pés quando apoio meu peso em uma nova empreitada. Não sou o suficiente para rompê-lo ainda. Ainda. Mas o som do vidro gritando de agonia, quando mais uma vez o faço rasgar, se torna meu único companheiro e, se paro, logo o desespero ensurdecedor do silêncio ao meu redor me obriga a seguir em frente. O último passo é claramente óbvio. Ao tocar o tapete gélido sob meus pés, ouço a última lamuria. Parado, solto a respiração e a seguro. Silêncio. Quando inspiro, o chão chia novamente. Olho pela primeira vez para baixo. Escuridão. Vazio. O desconhecido me aguarda, bom ou ruim, é para lá que eu vou. Respiro fundo e caio.