Já te fiz minha uma centena de vezes e outras tantas eu te fiz ausente, mas em quantas delas eu a tive? Já foste forte e soberana, foste rude e indiferente. Assim também foste frágil e insegura, foste débil e delinqüente, mas quantas vezes foste minha?
Ah, quantas vezes não a cobri de lágrimas, quantas vezes não a descartei mal amada, quantas vezes não a esqueci e quantas não a apreciei. E mesmo assim, quantas vezes eu não a amei? Mas o universo existente entre nós, essa barreira intransponível que sempre está lá, a cada vez que a admiro, a cada vez que a amo, a cada vez que a recuso, a cada vez que a odeio, é sempre tão fria, tão sólida, tão cruel.
Poderíamos um dia nos olhar e quem sabe até nos tocar, mas para tanto, ela não poderia existir. E não existindo, então, não seriamos quem e o que somos. Talvez já estivéssemos cansados, velhos, tristes. O doce que me traz a ti é a certeza do inacessível. É quando te vejo pronta e poderia mergulhar em ti, que me lembro que não está lá para mim. Não está ao meu alcance. Eu posso quase tocá-la do lado de cá, mas estás to lado de lá.
E assim, sem saída, eu prefiro continuar sendo o caminho das pedras que te leva à estrada dos tijolos amarelos. Mesmo que deva seguir, então, sozinha. E eu. Sem ti. Guardado em mim o sabor, doce ou amargo, não importa. É teu. Mas meu preço é o amor e este, minha cara, você jamais poderá pagar. Portanto, continue poesia, para que eu continue a te escrever.
(PINHEIRO, João Pedro C.; 17/08/2012 - 15:25h)