Réu confesso: já fui odiador de carnaval, mas, diferente do que vejo
hoje, meus motivos eram puramente a bagunça, a barulheira e, principalmente, as
músicas (exclua disso as marchinhas).
Textos ovacionados, e que talvez em outro momento eu também ovacionasse,
de críticos do carnaval, tratam-no como o grande agente causador de problemas.
Alguns até falam em acabar com o carnaval e se vangloriam de tamanha ousadia e
sacrifício.
Infelizmente, do meu ponto de vista, o grau de miopia dessa opinião é
elevadíssimo. O Carnaval não é o agente dos problemas; os problemas do Carnaval
é que são as consequências, efeitos colaterais, de uma infraestrutura sociocultural
negligenciada. E da mesma forma como um câncer, não se tratam apenas os
sintomas, mas as causas.
A informação rodando por ai dos absurdos R$ 2 Bilhões de investimento
no Carnaval não veio acompanhada de outro dado: 2013 bateu o recorde de
arrecadação de impostos, foram R$ 1,7 TRILHÃO (informação da ACSP). É dinheiro
para caramba! Os R$2 Bilhões também são, mas deu para perceber que não é ai que
mora o problema?
Não é curando o Carnaval que alguma coisa vai melhorar. Ele acontece o
ano todo sem ninguém perceber: baladas, micaredas, pancadões, superfestas e
jogos universitários... a diferença é que em fevereiro/março é feriado , tem
nome, fantasia e geralmente sua mãe quer e pode participar.
Acho que todos tem sua opinião sobre os problemas políticos, sociais, econômicos
e culturais brasileiros, mas descarregar um ódio politizado sobre o carnaval é aceita-lo
como bode expiatório e deixar que o “ópio do povo” seja seu também, afinal
serviu para desviar sua ira.
Ninguém
precisa gostar do Carnaval, seja pela música, ruas fechadas, sujeira, barulho,
mas não gostar politicamente, para mim, é visão curta.