Preciso segurar as palavras que querem sair atropelando umas
às outras
O que fora silêncio débil vê-se caótico e desordenado, explosivo
Por entre os dedos esvaem-se as rédeas maltratadas pelo
abuso
O que fora sanidade torpe vê-se em desgoverno e descarrilho,
desmorona
Desespero e anseio a loucura de saltar das amarras soltas,
voar, cair
O que fora domínio cético vê-se calando a mente, pulsando o
sangue
A certeza incrédula, vaiada; e a ovação ao incauto, ao
reprimido
O que fora segurança bruta vê-se desmontado, guarda nula
Nem a forma segue em ordem sem o toque do incerto
Chega em pé que troca o passo,
Prende a postos
O que fora verso
O que foi avesso
O que lá fora é vasto
In, des, a, ando, ado, auto, ido
Certo de que a porta aberta tem a forca
E a força tem de abrir a porta certa
Imenso, imerso
Incoerente, in corrente
O que fora sentido à solução mundana ao abismo do
intangível,
Vê-se roto.
Eu me lembro.
(PINHEIRO, João P. C., 27/09/2014)