Andava eu por uma rua de paralelepípedos olhando ao redor como turista em dia de festa no pelô. As casas pareciam ter vida conforme os canhões de luz as punham em movimento. Dançavam uma música que somente os corações aflitos ainda escutavam.
Era tarde da noite e ainda sobravam alguns foliões, os tais corações aflitos, em busca de um último banho de lua. Seus passos tortos, suas bocas secas, seus olhos brilhantes.
Como quem buscava abrigo caminhei para longe e sentei-me de canto em uma praça quieta, disposto a tomar um último gole de luar e fugir dali para debaixo de meus sonhos.
E quem me dera estar sonhando a uma hora dessas.
Não distante dali um par de sapatos caminhava em seu “toc toc” hipnótico madrugal. Em minha direção, pensei. Pois, em minha torcida por um sonho, onde mais iriam? Eu não tinha o ímpeto de ir atrás, mas a curiosidade me consumiria.
E como carta marcada, por trás de uma arvore dormente, talvez iluminada demais por uma lua zombeteira, saia a dona dos passos ecoantes. Não a via, sentia-a. Meus olhos pesados se fizeram de rogados e esperaram alguns segundos antes de se abrir, para só então me presentear com um rosto empalidecido pela lua e um sorriso avermelhado.
Imediatamente levantei e antes decido em sua direção como se já houvesse feito isso centenas de vezes, mas nunca a vira antes. A distância parecia uma madrasta infiel e punitiva esticando-se comigo a correr.
Tomei-a em meus braços como se fosse dócil, toque seu rosto como se fosse ouro, senti seu cheiro como se fossem flores e beije-lhe a boca como se fosse minha.
Abri os olhos como se fosse tarde e cai para trás ao não vê-la em minha frente, não tê-la em meus braços. Sentado no chão risos giram em meus ouvidos, vejo dois lábios rubros e fecho os olhos.
Era um sonho.
SINTO FALTA
Há 10 anos
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