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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Bloqueio Criativo

Olho por horas um monitor estático e sem vida
Abafo o som do exterior que me invade e distrai
Fecho os olhos atrás de um momento de inspiração
E me afogo nesse interior de distrações inférteis
Respiro fundo em memórias que já foram transcritas
Repito ideias que já tiveram seu momento de glória
Uso os mesmos preceitos, as mesmas palavras
Os mesmos casos imperfeitos, as mesmas experiências passadas
Surge uma rima a toa que morre no próximo verso
E lá estou eu fazendo outra vez o processo inverso
Bato outras teclas, rabisco outros papeis e fico pela metade
Backspace, borracha e a metade que tinha, sumiu
Olho por horas um monitor estático e sem vida
E começo do zero outra vez
(PINHEIRO, João Pedro C - 26/12/2013~)

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Quem somos nós?

Às vezes fingimos ser o que achamos que queremos ser. Enquanto isso, vamos deixando quem realmente somos aos poucos para trás.

Às vezes o que somos é apenas fingimento de tanto querermos ser aquilo que achamos que deveríamos.
Às vezes achamos que, se não somos, deveríamos fingir para, na insistência, nos tornarmos aquilo que queremos ser.
No final, é tudo porque nunca condizemos com quem gostaríamos de ser.
Mas quem nos disse que gostaríamos de ser? Só nos disseram que gostariam que fôssemos.
Quem realmente somos nós?
(PINHEIRO, João Pedro C. - 22/11/2013 - 15:48h)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Nas paredes negras do teatro do tempo


Deixei esse trecho de poema envelhecendo a quase um ano. Inacabado, porque faltou poeta.
Hoje peguei-o, acidentalmente, e descobri que o poeta tinha ido embora, porque a arte estava completa.
Gostei de ver como algumas coisas esquecidas no tempo têm sua simplicidade, momentaneamente angustiante, maturada.
 
Escrevi nas paredes do tempo
As lembranças de um dia de sol
Sem bemol e sem punhal, guardei
No teatro da imaginação
Sem visão e sem camarim
Que sem o passo correto, beira a tangente da alma,
E a calma se esvai e o tempo despista a recordação
E o que sobra é negrume, é dor que lamenta a memória,
Doente das boas idéias, dormente.
(Pinheiro, João Pedro C. - 11/12/2012)

terça-feira, 2 de abril de 2013

Olhos Delirantes

Ah, se meus olhos abertos ainda pudessem voltar atrás,
Ao escuro e seguro mar das incertezas inexpressíveis.
Se, ao invés de atirados à luz, tivessem calado, ignorantes.
Afogados em inocência e seguido errantes.

Mas, como dos males o pior, já não importa o que se faz,
A cegueira é oca enquanto as empreitadas são irresistíveis.
E resolveram correr selvagens, por ares delirantes,
Perseguir dementes seus desejos gritantes.

Uma vez tomada conta, luz infame, inebriante, audaz,
Ponderou os finais, rebelou. Tornaram-se irreconhecíveis.
Hoje divagam desvairados e existem doentes, vibrantes,
Deslumbrados por eras e ora amantes.
(PINHEIRO, João P. C. - 02/04/2013; 17:38h)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Aprisionado

O absurdo de seguir seus passos é zelo ao vício de um condenado.
Aceitação e adoração patológicas inerentes a uma condição impassível.
Embriagado de sedativos torpes, envolto por fadiga, trauma e lamúrias.
Uma jornada incoerente, incauta e incabível ao sofrimento dispensável.
(PINHEIRO, João Pedro C. - 26 de fevereiro de 2013)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Último Temporal

O clarão me ofusca antes que eu tenha tempo de me preparar.

Rasga o céu, cicatriz brilhante, um corte em meu caminho que cega.

Para onde quer que rume, queima o fogo vigoroso e determinado,

Mas por hora estou preso em sua escuridão pálida e apavorante.

Como que num ensaio, o céu vem ao chão socorrer o que o fogo consome.

Sua precisão desumana espera um segundo de minha esperança e me engole.

Só então as cores voltam devagar e param de vagar perdidas e borradas.

Sem perdão, abraça-me Bóreas e estremece-me a carne e os ossos.

Um segundo depois, o rugido desconcertante, urro ensurdecedor.

A noite me traga novamente para dentro de seu pulmão gelado.

Toco o chão, cama de pedra, solidez solícita para a solidão que parece sólida.

Onde quer que eu tenha caído, o corpo repousa com desdém e descaso,

Mas sem que o auto esteja se quer em seu ápice, em seu apogeu.

Como que num equívoco, torno a mirar o firmamento em busca de luz.

Sua violência doentia me entrega novamente à cegueira e à palidez.

Nem então, misericordiosos, retiram-se ou levam-me de vez ao Caos.

Sem trégua, deliram em fúria e festejam a queda dos mais poderosos de nós.

Uma era depois, o primeiro traço de vida, a primeira ressalva da dor.

(PINHEIRO, João Pedro C. - 18 de Fevereiro de 2013)