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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Sim

Sem você jamais poderia
Imaginari o céu
Levei para mim
Vestígios de ti
Ideias de um sonhador
Amanhã já vai raiar
Mas não quero
Outro dia sem ti
Raro são os sonhos
Ávidos, risonhos
Eu espero ter teu
Sim
(João Pedro C. Pinheiro - Outubro/2014)

E para evitar um pouco a banalidade dos poemas acrósticos, resolvi musicá-lo.
Desculpem a qualidade da gravação, o pequeno erro no final da letra e qualquer desafinada :)

sábado, 27 de setembro de 2014

Desconstrução

Preciso segurar as palavras que querem sair atropelando umas às outras
O que fora silêncio débil vê-se caótico e desordenado, explosivo
Por entre os dedos esvaem-se as rédeas maltratadas pelo abuso
O que fora sanidade torpe vê-se em desgoverno e descarrilho, desmorona
Desespero e anseio a loucura de saltar das amarras soltas, voar, cair
O que fora domínio cético vê-se calando a mente, pulsando o sangue
A certeza incrédula, vaiada; e a ovação ao incauto, ao reprimido
O que fora segurança bruta vê-se desmontado, guarda nula
Nem a forma segue em ordem sem o toque do incerto
Chega em pé que troca o passo,
Prende a postos
O que fora verso
O que foi avesso
O que lá fora é vasto
In, des, a, ando, ado, auto, ido
Certo de que a porta aberta tem a forca
E a força tem de abrir a porta certa
Imenso, imerso
Incoerente, in corrente
O que fora sentido à solução mundana ao abismo do intangível,
Vê-se roto.

Eu me lembro.
(PINHEIRO, João P. C., 27/09/2014)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Era um sonho

Andava eu por uma rua de paralelepípedos olhando ao redor como turista em dia de festa no pelô. As casas pareciam ter vida conforme os canhões de luz as punham em movimento. Dançavam uma música que somente os corações aflitos ainda escutavam.

Era tarde da noite e ainda sobravam alguns foliões, os tais corações aflitos, em busca de um último banho de lua. Seus passos tortos, suas bocas secas, seus olhos brilhantes. Como quem buscava abrigo caminhei para longe e sentei-me de canto em uma praça quieta, disposto a tomar um último gole de luar e fugir dali para debaixo de meus sonhos.

 E quem me dera estar sonhando a uma hora dessas. Não distante dali um par de sapatos caminhava em seu “toc toc” hipnótico madrugal. Em minha direção, pensei. Pois, em minha torcida por um sonho, onde mais iriam? Eu não tinha o ímpeto de ir atrás, mas a curiosidade me consumiria.

E como carta marcada, por trás de uma arvore dormente, talvez iluminada demais por uma lua zombeteira, saia a dona dos passos ecoantes. Não a via, sentia-a. Meus olhos pesados se fizeram de rogados e esperaram alguns segundos antes de se abrir, para só então me presentear com um rosto empalidecido pela lua e um sorriso avermelhado.

Imediatamente levantei e antes decido em sua direção como se já houvesse feito isso centenas de vezes, mas nunca a vira antes. A distância parecia uma madrasta infiel e punitiva esticando-se comigo a correr. Tomei-a em meus braços como se fosse dócil, toque seu rosto como se fosse ouro, senti seu cheiro como se fossem flores e beije-lhe a boca como se fosse minha.

Abri os olhos como se fosse tarde e cai para trás ao não vê-la em minha frente, não tê-la em meus braços. Sentado no chão risos giram em meus ouvidos, vejo dois lábios rubros e fecho os olhos.

Era um sonho.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Doce ilusão

Doce ilusão que me cobre em desejos
Pedaço de céu que farto em gracejos
Quase intocável, quase inocente,
Me invade, inquieta, pelos meus bordejos
  
Cedo no tempo que corre apressado,
Tarde no espaço, profundo, embaçado,
Incerteza contida, incerteza latente,
Na ponta do lápis, detalhe traçado.
 
Sonho acordado o leve balanço
Inconsequente me largo, me lanço,
Preso na espera, preso na gente,
Quente em seus braços... amanso.
(PINHEIRO, João Pedro C., 16/07/2014 - São Paulo)

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Não sou nem um, nem outro.
Não sou de perguntas, nem sou a resposta.
Sou ardência de fogo em brasa, sou leveza de folha ao vento.
Não sou certo, nem estou errado.
Sou hoje, sou agora e não sou mais.
Marco como a cicatriz que se esconde sob a tatuagem, mas não desboto.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Sobre o ódio politizado ao Carnaval

Réu confesso: já fui odiador de carnaval, mas, diferente do que vejo hoje, meus motivos eram puramente a bagunça, a barulheira e, principalmente, as músicas (exclua disso as marchinhas).

Textos ovacionados, e que talvez em outro momento eu também ovacionasse, de críticos do carnaval, tratam-no como o grande agente causador de problemas. Alguns até falam em acabar com o carnaval e se vangloriam de tamanha ousadia e sacrifício.

Infelizmente, do meu ponto de vista, o grau de miopia dessa opinião é elevadíssimo. O Carnaval não é o agente dos problemas; os problemas do Carnaval é que são as consequências, efeitos colaterais, de uma infraestrutura sociocultural negligenciada. E da mesma forma como um câncer, não se tratam apenas os sintomas, mas as causas.

A informação rodando por ai dos absurdos R$ 2 Bilhões de investimento no Carnaval não veio acompanhada de outro dado: 2013 bateu o recorde de arrecadação de impostos, foram R$ 1,7 TRILHÃO (informação da ACSP). É dinheiro para caramba! Os R$2 Bilhões também são, mas deu para perceber que não é ai que mora o problema?

Não é curando o Carnaval que alguma coisa vai melhorar. Ele acontece o ano todo sem ninguém perceber: baladas, micaredas, pancadões, superfestas e jogos universitários... a diferença é que em fevereiro/março é feriado , tem nome, fantasia e geralmente sua mãe quer e pode participar.

Acho que todos tem sua opinião sobre os problemas políticos, sociais, econômicos e culturais brasileiros, mas descarregar um ódio politizado sobre o carnaval é aceita-lo como bode expiatório e deixar que o “ópio do povo” seja seu também, afinal serviu para desviar sua ira.

Ninguém precisa gostar do Carnaval, seja pela música, ruas fechadas, sujeira, barulho, mas não gostar politicamente, para mim, é visão curta.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

MORTE

Um manto negro e um sorriso zombeteiro
Ela vem tão certa como a noite e deixa vazia a imensidão
Não há ordem, não há plano, não há nada
Segue torpe espalhando o caos aos inconsoláveis
Involuntariamente e incessantemente e impunemente
Faz-nos fracos e tementes, como crianças no escuro
Breves fugitivos de uma condição inerente
Surpreendentemente afasta-nos da fuga e aproxima-nos de si
Valor velado, mas pesado em ouro para tamanha insignificância
Pois a olhe nos olhos e veja que não o persegue, pois é cega.
Que ela passe a nos servir e não nós a essa madrasta incoerente
Celebremos a memória e a vida, ao invés de chorarmos para a Morte.
(PINHEIRO, João Pedro C. - 18/02/2014)