Olho as cartas sem mais pressa,
Os copos secaram e me condenaram,
A ausência é presente que me lesa,
A presença é oca, além de pouca.
Se largou seu porto pra trás,
Então fugiu e ninguém te ouviu,
Sou o último barco naufragando no cais,
Aportando lento, já sem intento.
O vazio me envolve em loucura,
Resta o som de ondas fora do tom,
Dissonando em cada fissura,
Passo marcado, compasso quebrado.
Ao horizonte o último raio de luz,
O leme errante, o mastro dançante,
Querem navegar, mas ninguém os conduz,
Sobra adulação em tanta solidão.
O convés então cede à dor,
Antes inabalável, tornou-se instável,
A força esvaiu-se sem se opor,
Minguou sofrida, tornou-se ferida.
Por fim naufrago sem opção,
Sem tentar fugir, sem tentar seguir,
Abandonado ao léu sem perdão
Sem tentar me por ou me opor.
(PINHEIRO, João Pedro C. - 27/06/2012 - 10:40hs São Paulo)