O clarão me ofusca antes que eu tenha tempo de me preparar.
Rasga o céu, cicatriz brilhante, um corte em meu caminho que cega.
Para onde quer que rume, queima o fogo vigoroso e determinado,
Mas por hora estou preso em sua escuridão pálida e apavorante.
Como que num ensaio, o céu vem ao chão socorrer o que o fogo consome.
Sua precisão desumana espera um segundo de minha esperança e me engole.
Só então as cores voltam devagar e param de vagar perdidas e borradas.
Sem perdão, abraça-me Bóreas e estremece-me a carne e os ossos.
Um segundo depois, o rugido desconcertante, urro ensurdecedor.
A noite me traga novamente para dentro de seu pulmão gelado.
Toco o chão, cama de pedra, solidez solícita para a solidão que parece sólida.
Onde quer que eu tenha caído, o corpo repousa com desdém e descaso,
Mas sem que o auto esteja se quer em seu ápice, em seu apogeu.
Como que num equívoco, torno a mirar o firmamento em busca de luz.
Sua violência doentia me entrega novamente à cegueira e à palidez.
Nem então, misericordiosos, retiram-se ou levam-me de vez ao Caos.
Sem trégua, deliram em fúria e festejam a queda dos mais poderosos de nós.
Uma era depois, o primeiro traço de vida, a primeira ressalva da dor.
(PINHEIRO, João Pedro C. - 18 de Fevereiro de 2013)