Olho as cartas sem mais pressa,
Os copos secaram e me condenaram,
A ausência é presente que me lesa,
A presença é oca, além de pouca.
Se largou seu porto pra trás,
Então fugiu e ninguém te ouviu,
Sou o último barco naufragando no cais,
Aportando lento, já sem intento.
O vazio me envolve em loucura,
Resta o som de ondas fora do tom,
Dissonando em cada fissura,
Passo marcado, compasso quebrado.
Ao horizonte o último raio de luz,
O leme errante, o mastro dançante,
Querem navegar, mas ninguém os conduz,
Sobra adulação em tanta solidão.
O convés então cede à dor,
Antes inabalável, tornou-se instável,
A força esvaiu-se sem se opor,
Minguou sofrida, tornou-se ferida.
Por fim naufrago sem opção,
Sem tentar fugir, sem tentar seguir,
Abandonado ao léu sem perdão
Sem tentar me por ou me opor.
(PINHEIRO, João Pedro C. - 27/06/2012 - 10:40hs São Paulo)
Um comentário:
Não sei se você é do tipo que gosta de Harry Potter, rs, mas independente disso era sempre possível encontrar frases de reflexão no livro, tais como "Aindiferença e o abandono muitas vezes causam mais danos do que a aversão direta". Além de um pensamento, isso é um fato, eu já contestei e seu poema aprova novamente a teoria. Quando alguém parte, quando um laço se rompe, quando vivemos à míngua das lembranças do que um dia pareceu tão concreto. Uma poesia bem elaborada, exata, nostálgica e, tristemente, conformada. Por vezes, é a única solução... Deixar que o tempo faça bem. Muito bonito.
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